sexta-feira, 20 de maio de 2011



O LÁPIS 


É por demais de grande a natureza de Deus. 
Eu queria fazer para mim uma naturezinha 
particular. 
Tão pequena que coubesse na ponta do meu 
lápis. 
Fosse ela, quem me dera, só do tamanho do 
meu quintal. 
No quintal ia nascer um pé de tamarino apenas 
para uso dos passarinhos. 


E que as manhãs elaborassem outras aves para 
compor o azul do céu. 
E se não fosse pedir demais eu queria que no 
fundo corresse um rio. 
Na verdade na verdade a coisa mais importante 
que eu desejava era o rio. 
No rio eu e a nossa turma, a gente iria todo 
dia jogar cangapé nas águas correntes. 
Essa, eu penso, é que seria a minha naturezinha 
particular: 
Até onde o meu pequeno lápis poderia alcançar.

(Manoel de Barros_ "Poemas Rupestres")

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