Respira fundo e apaga tudo por alguns segundos. Conte até dez e
permita-se recomeçar. Parece terapia mas não é, quando se está na beira
do abismo, você se salva ou vira manchete de jornal. A poesia fica no
canto da página, feito nota de falecimento, sem nenhuma expressão. Não
adianta querer entender o que se passou, é hora de esquecer e se
reorganizar, uma mera questão de sobrevivência. Depois de tantas
recaídas, idas e vindas é preciso voltar ao jogo. E é nessas horas que
eu gosto de comparar o ser humano com a água, com o líquido e o
abstrato, gosto de acreditar na flexibilidade e fluidez do universo. Eu
diria que o segredo é ser capaz de enxergar todas as possibilidades de
escolha, de entender as múltiplas facetas da verdade.
Vasculhe o jornal,
tantas coisas acontecendo, o mundo é um balão de novidades, uma esfera
cibernética de fatos e pessoas. Reflita, se fossemos baseados em regras
ou princípios torpes, tornaríamos repetições sem graça dos nossos pais,
no máximo um retrato hightech do passado. Está na hora de exercer toda a
sua criatividade. Reaja e assim como a água deixe fluir. Ocupe um novo
lugar, adapte-se às novas condições de temperatura e ambiente. Vamos,
respira, a cada tropeço temos a chance de rever tudo, de encontrar as
falhas, de tampar os buracos. Somos um rio repleto de vida, carregamos
em nós mesmos um universo particular de possibilidades e vocações. Abras
as gavetas, doe algumas roupas, faça novas combinações, ache palavras
interessantes no dicionário e use-as, compre discos, vá ao conservatório
de música e em suas escadarias recite aquele verso que te fez chorar.
Está tudo ai, basta exercermos a nossa liberdade e irmos em frente.
(Elisa Bartlett)

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