sábado, 15 de julho de 2023

Era julho de um quase inverno, quando os pássaros que trazia no peito voaram em silêncio para outros infinitos que não aqueles, que cabiam em seus olhos. E ela sabia que a percepção de uma ave é coisa rara, por isso, cedeu ao bater das asas e àquele silêncio que já não pesava tanto. Era como abraçar a paz, depois de lutar e perder todas as guerras.

Sentou-se ao pé de si mesma e cantou uma canção sem nome, enquanto suas mãos aqueciam uma a outra. Pensou nas perguntas que não tinha feito e se perdeu nas respostas possíveis... Que sentido haveria de ter a vida, depois de amar tanto? Não sabia.

Tudo parecia perder, por completo, o significado. A geografia dos passos, a inquietude das cores, a força do vento, a melancolia da paisagem, o sofrimento alheio, os naufrágios, os átomos, a palavra e o tempo. Quase volátil esse desejo de querer pertencer ao que não existe mais.

[Tríccia Araújo]

Arte: Carolyn Quartermaine

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