Deixa
Deixa-me ser
A palavra sem língua
Que de tua boca abusa
Deixa-me ser a mão
Que silente abre tua blusa
E beija o seio esquerdo
Pensando beijar teu coração
Deixa-me ter direito
Ao mapa da tua geografia
E com muito respeito
Quase reverência
Convidar-te a adolescência
Deixa o meu ser jocoso
Invadir o domingo da tua vida
Celebrar a inocência
De maneira atrevida
E produzir prazer e gozo
Deixa...
Por um impulso qualquer
Sem palavras de recusa
Ver-te menina
Amar-te mulher
Deixa que esse menino
Seja o ser que te completa
Seja enfim o teu poeta
As vestes que usa
Esse corpo feminino
E tu serás a minha musa
Minha amada, mulher e gueixa
Se acaso o coração queira
Mas a razão desobedeça
Apenas... Deixa...
(Emanuel Galvão)
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