"Amor vem de amor. Vem de longe, vem no escuro, brota que nem mato que
dispensa cuidado e cresce com a mais remota chuva. Vem de dentro e fundo
e com urgência. Amor vem de amor. Que não cabe, mas assim mesmo a gente
guarda. A gente empurra, dobra, faz força, deixa amassado num canto, no
peito, no escuro, dentro, ou larga pegando sereno. Amor vem de amor.
Vem do pedaço mais feio, do mais sem palavra, do triste, vem de mãos
estendidas. É tecido desfeito pelo tempo, amarelecido pelo tempo, pelo
cheiro da gaveta fechada, pelo riscado do sol na madeira. Amor vem de
amor. Vem de coisa que arrebata, vira chão, terra, cisco, resto, rastro,
coisa para sempre varrida. É delicadeza viva forte violenta. Que faz
doer, partir, deixar caído. Amor vem de amor. E dói bonito."
(Guimarães Rosa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário